Primeiro ou último post do Projeto CicloAitiara

junho 3, 2009

Se você esta chegando agora e nem sabe direito do que se trata esse blog, segue a explicação. Estou usando esse espaço como Diário de Bordo das cicloviagens promovidas pelo site CicloBR e este é o último post do Projeto CicloAitiara. Realizado em maio de 2009, onde levei um grupo de 23 alunos, mais professores e amigos para uma cicloviagem pelo litoral sul de São Paulo, saindo de São Miguel Arcanjo e passando pelo parque Carlos Botelho e pelas cidades de 7 Barras, Registro, Iguape, Ilha Comprida, Cananéia, Ilha do Cardoso, Ilha do Superagui, Ilha das Peças, encerrando em Paranaguá, no estado do Paraná.

Se você já leu todo o Diário de Bordo, continue sua leitura normalmente, mas se esta chegando agora no blog, vá para o primeiro post e saiba detalhes do que aconteceu em cada dia.

Quero aproveitar essa postagem para agradecer a todos que convivi nesses 10 dias. Também a àqueles que não puderam participar, mas de alguma maneira contribuíram para a realização desse sonho.

Largada para a primeira cicloviagem da minha vida

Foram muitas as coincidências, em 1996 realizei minha primeira cicloviagem e o trajeto foi muito parecido com esse, sai de São Paulo e pedalei até Cananéia. O objetivo era chegar a Paranaguá, mas devido à inexperiência e a falta de dinheiro, tivemos que ficar no meio do caminho. Pegamos o Munduba (barco da Dersa) só para conhecer a Ilha do Cardoso e Superagui por algumas horas e isso só contribuiu para aumentar a sensação de vazio, de incompetência em realizar a viagem.

Ilha do Cardoso em 96

Depois dessa trip realizei diversas outras viagens e para poder dividir minhas emoções e também estimular mais pessoas a praticarem o cicloturismo, criei o site CicloBR. Nele passei a divulgar detalhes das nossas viagens, sempre com uma narrativa que possa auxiliar os futuros cicloturistas.

Mesmo realizando viagens maravilhosas como as viagens pelo Tietê, o Caminho da Fé, entre tantas outras, o vazio continuava. Até que em 2 de janeiro de 2009, recebo um email da professora Ana Ventura, que tinha como objetivolevar seus alunos para realizar um estudo  dos ecossistemas do litoral sul do estado, mas de maneira vivencial, numa viagem de bicicleta.

Aceitei quase que de imediato, a partir de então começamos a trabalhar juntos (mais ela do que eu) para que essa viagem saísse do patamar do sonho, para se tornar realidade.

Muitos contratempos ocorreram, por parte da professora, imagino o quanto foi complicado convencer os pais dos alunos de que era possível realizar uma viagem como essa e com segurança. Da minha parte tive milhões de motivos para abortar a viagem. Para se ter uma idéia, faltando duas semanas para o início, a minha City Tour, a bicicleta que usaria na viagem, apareceu com uma rachadura estranhíssima, impossibilitando de usá-la na viagem.

"pequenos" contratempos

Sobrou então minha Aluminum 94 que por coincidência é a mesma bicicleta que usei na viagem de 1996. Detalhe, eu havia aposentado essa magrela para cicloviagens, usava apenas em passeios curtos. O destino mais nobre seria transformá-la em fixa, algo que ainda pretendo fazer. Acho que quando ela soube da viagem, resolveu sabotar a concorrente para se tornar a única opção.

Minha guerreira em ação em 96. De giant, nem o adeviso

Mesmo assim me organizei e resolvi encarar essa aventura, algo que sempre sonhei. Pois além do sonho de terminar a viagem de 96, eu vivo em função de incentivar o uso da Bicicleta, seja como meio de transporte, ou na maravilhosa prática do Cicloturismo. Passar 10 dias com dezenas de jovens, a maioria já com a data da prova do DETRAN marcada, tendo a possibilidade de contagiá-los com o vírus da bicicleta era tudo que sonhei. Entrar na cidade de Registro “causando” e gritando “Menos Carros, Mais Bicicletas” é de até fazer a Falzoni chorar.

Galera na estrada

Passado esses dez dias, tenho certeza que foi isso que aconteceu. Temos umas 30 pessoas já “viciadas” em bicicletas, cicloturistas planejando vôos maiores, outros vendo qual a melhor maneira de incluir a bicicleta em suas rotinas diárias e o mais importante. Vi essas crianças tornarem adultos, tive a honra de vivenciar um amadurecimento surpreendente que só a bicicleta é capaz de proporcionar.

Desde o começo tinha certeza que todos eram capazes, não só de terminar a viagem com facilidade, mas de transformarem essa aventura num marco para levarem pelo resto de suas vidas. Exatamente como ocorreu comigo, já que graças a viagem de 96 sou essa pessoa que vocês conhecem. Da mesma maneira que aquela viagem de 96 mudou significativamente minha vida, tenho certeza que essa apontará novos horizontes, não apenas aos alunos, mas também aos demais adultos que participaram da viagem.

Mudança de vida

Mais uma vez quero agradecer a todos vocês por ter me proporcionado essa experiência maravilhosa. Especial a todos os alunos, não vou citar cada nome para não cometer injustiças, mas consegui ter momentos maravilhosos com praticamente todos e terminei a viagem com uma enorme esperança de que, com base nessa turma, nosso planeta esta em boas mãos.

Um agradecimento especial aos pais de alunos que nos acompanharam, ao Fábio que nos fez economizar uma boa quantia com suas pechinchas e ao Sherpa Marcel que demonstrou um companheirismo e solidariedade incomum, em momentos prá lá de cruciais.

Aos meus amigos de São Paulo, a Talita que chegou no segundo tempo e ainda conseguiu sentar na janelinha, o Matias, que participou dos primeiros dias da aventura e colaborou demais com o grupo, principalmente passando suas experiência sobre o modo de vida dos moradores do Vale do Ribeira, a Drielle que se mostrou uma excelente ciclista e uma pessoa maravilhosa, ajudando demais o grupo. E um especial ao Aragon que me salvou aos 45 minutos do segundo tempo e não só ajudou demais no suporte ao grupo, como conseguiu conquistar todos com sua alegria e irreverência (que eu juro, não conhecia).

Agradecer aos professores, o Caco que parecia ser magnetizado e que pedalava sobre uma chapa de aço. Mesmo insistindo em cair toda hora, quebrando sua bicicleta de todas as maneiras possíveis, chegou bonito e prometendo comprar uma bicicleta decente e incluí-la em sua rotina.

A professora Suzana. Aprendi demais com ela, adorei as aulas de biologia e principalmente as histórias de aventuras do seu Bisavô. Que coisa fantástica, não deixe de escrever aquele livro, quero ser um dos primeiros a comprar.

Finalizando, todos devem concordar com o agradecimento mais que especial a Professora Ana Vieira. Simplesmente porque se não fosse pela sua inteligência, “loucura”, gana e determinação dela, nada teria acontecido e nem vocês teriam feito essa cicloviagem e nem eu teria realizado o meu sonho.

Obrigado mesmo Professora Ana, agradeço também aos deuses “googados” que a guiaram até o meu site e fez com que toda essa cadeia de acontecimentos ocorresse. Foi uma enorme honra poder ter o privilégio dessa maravilhosa experiência de vida. Que muitas “Anas Vieiras” continuem cruzando o meu caminho.

Abraços a todos e até a próxima viagem.

André Pasqualini

Céu ou Inferno no embarque de volta, refém do bom senso das empresas de ônibus

junho 3, 2009

Bike Fobia

Todo cicloturista experiente sabe que os momentos mais tensos da viagem, dificilmente serão os que passaremos sobre a bicicleta, mas sim os de sangue frio que passamos em frente aos guichês das empresas de ônibus.

Devido a um vácuo na regra de bagagens da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) somos reféns do bom senso dessas empresas. Para se ter uma idéia de como a situação é variada, já teve situações em que fui obrigado a deixar bicicleta na cidade, voltar sozinho de ônibus e depois pedir a um amigo enviá-la como encomenda no dia seguinte.

Também ocorrem situações tão surpreendentes que chegam a ser bizarras de tamanho bom senso, como ocorreu em nossa saída, quando pegamos um ônibus da Breda, de São Paulo até São Miguel Arcanjo. Na hora de comprar as passagens, ficamos sabendo que era um Microônibus que nos levaria. Os atendentes e o motorista foram tão atenciosos que duas bicicletas foram colocadas dentro do bagageiro e uma foi ocupando as 4 últimas cadeiras do Microônibus.

Estou preparando uma matéria bem detalhada sobre esse problema e publicarei no CicloBR, mas aqui vou focar apenas no que ocorreu no nosso retorno. De Paranaguá há apenas uma linha direta para São Paulo por semana, que sai as 21h00 do domingo, chegando a Sampa as 9h00 da manhã de segunda. Descartamos essa hipótese, pois queríamos chegar a São Paulo ainda no domingo para podermos utilizar o Metrô.

A opção restante seria pegar um ônibus até Curitiba e de lá seguir para São Paulo. A única empresa que faz esse trajeto é a Viação Graciosa que cobra R$16,19 pelo trajeto. Como o ônibus sairia as 13h00, chegamos vinte minutos antes para poder comprar as passagens e acomodar as bicicletas no ônibus com tranqüilidade.

Na hora de comprar as passagens no guichê, o vendedor já havia visto as bicicletas perguntou “Vocês vão embarcar com as bicicletas?” Quase respondi “Não, elas são do Velib da França, viemos pedalando de Paris até aqui e estamos procurando uma estação para deixá-la”. Quando respondemos o óbvio recebemos a paulada. “Então vocês tem que pagar 15 reais por bicicleta, devido ao excesso de bagagem”.

Obviamente questionamos o absurdo, como assim 15 reais? Teríamos o direito a dois bancos também? Aonde é que está isso, com base em que lei estão nos cobrando? De onde é que eles tiraram essa informação? Como chegaram nesse valor? Que nossas bagagens sejam pesadas para ver se ultrapassamos a franquia de 30 quilos!

Nenhuns de nossos questionamentos foram respondidos e muito menos eles quiserem pesar nossas bagagens. Então o funcionário começou a passar pessoas na nossa frente, alegando que estava consultando os “superiores” para resolver a questão  e eu insistindo para que ele vende-se a passagem, pois iríamos mesmo se tivéssemos que pagar.

Como já era quase 13h00 e havia uma grande fila atrás de nós, falamos que pagaríamos essa taxa de excesso, mas pedimos uma nota fiscal, que também foi negada. Nessa hora a paciência foi para o espaço, ele insistia em passar os outros na frente, até que um dos compradores se recusou a comprar a passagem antes de vender a nossa e atendesse nosso pedido da nota fiscal.

Depois apareceu outra funcionária estressada e essa extremamente mal educada. Já havia sacado a minha câmera para registrar todas as negativas dos funcionários, inclusive a negativa em ceder a nota fiscal. Já eram 13h15 quando aceitamos as “extorsões ” dos funcionários da empresa, pagamos as taxas mesmo sem receber a nota e colocamos as bicicletas no bagageiro do ônibus.

Bilhetes da discordia

Detalhe, as nossas eram as únicas bagagens dentro do bagageiro do ônibus. Em Curitiba viajamos pela Itapemirim, com essa empresa a situação foi só um pouquinho mais tensa, o funcionário colocou todas as bagagens dos demais passageiros e na nossa vez ligou para um “superior” que liberou nossa entrada, já que segundo o funcionário “desconhecíamos a política da empresa”. Impossível é saber o que passa na cabeça de cada funcionário dessas empresas de ônibus, isso sim.

A Itapemirim foi "boazinha" conosco

Perguntei  a ele qual era a tal política e me respondeu que cobram 20 reais para carregar bicicletas, mas para nós seria de graça. Menos mal que não cobram o preço de uma outra passagem como a Graciosa.

Saímos as 15h15 de Curitiba, também com quinze minutos de atraso devido à “Bikefobia”, mas que não fez tanta diferença no tempo que perdemos, já que devido a dois acidentes na BR-116, chegamos no terminal Rodoviário do Tietê as 23h20, tarde mas ainda a tempo de pegar o Metrô.

No Metrô foi beleza

As vezes é melhor programar a viagem para ir e voltar pedalando, só para não depender das empresas de ônibus.

André Pasqualini

Ultimo dia, a triste hora da despedida

junho 2, 2009

Carregando a Escuna

Esse era um dia praticamente sem pedal. A programação seria a seguinte, sairíamos as 10 da manhã das Peças, de barco até Paranaguá. Lá o grupo almoçaria e as 14h00 embarcaria num trem que subiria a serra, chegando a Curitiba por volta das 18h00. Jantariam em Curitiba e as 21h00, o ônibus de Botucatu chegaria a Curitiba para o retorno.

Durante a viagem a professora Ana tentou junto à prefeitura de Botucatu, que arcou com o custo do ônibus, uma alteração no trajeto para que o ônibus viesse até São Paulo e depois seguisse para Botucatu. Se fosse aceito, poderíamos voltar com eles, ficando em Sampa, onde mesmo de madrugada, poderíamos pedalar até em casa.

Infelizmente eles não autorizaram a mudança de itinerário e o máximo que poderiam  fazer seria nos deixar em Sorocaba, para de lá, já na segunda feira, seguir para São Paulo, o que não adiantaria muito. Como a saudade era muita, conversei com meus amigos paulistas que concordaram em subir de ônibus comum até Curitiba para lá pegarmos o primeiro ônibus que fosse possível para São Paulo.

Ajeitando as bikes no barco

Conforme combinado, às 10 da manhã estávamos no píer, prontos para embarcar com destino a Paranaguá. Dessa vez era um barco ainda maior e quase coube todas as bicicletas no topo (no outro barco, umas 10 foram junto aos passageiros).

Curtindo a maresia

A travessia é bem demorada, levou quase duas horas, mas deu para aproveitar bem o belíssimo e divertido passeio. Na Baia de Paranaguá temos o segundo mais movimentado porto do Brasil. A maioria dos grãos que exportamos saem dali. É fácil perceber a diferença entre um barco de grãos e um que carrega containeres.

Navio de Grãos

Finalmente durante a travessia, consegui tirar foto de algum boto, foi bem de longe, mas pelo menos não passei em branco depois de tantos botos que cruzaram nossos caminhos durante a viagem.

Boto

Aves e mais aves, a beleza de ver o mergulho de um Mergulhão para caçar seu almoço.

Mergulhão

Passar ao lado da Ilha das Cobras, que segundo o barqueiro hoje é uma Ilha do Governador do Paraná e só eles tem o direito de acessar a ilha. Como ser governador é bom né gente! Ter uma ilha só pra gente. Por isso que esse pessoal insiste em não largar o osso.

Ilha das Cobras

A chegada em Paranaguá foi tranqüila, já era mais de meio dia e de imediato a Professora Ana saiu para garantir as passagens de trem.

Chegada em Paranaguá

Fui atrás dela e na estação, presenciei o homem do guichê preocupado pois eles não aceitam cheque, cartão ou outra forma de pagamento que não seja dinheiro. Isso dá para entender porque o transporte sobre trilhos no Brasil é essa piada. Mas bastou mandar um “Anavieira” que o senhor abriu um sorriso e aceitou o cheque.

Anaviera!!!

Na verdade eu queria me despedir logo, pois na estação de trem fiquei sabendo que o próximo ônibus para Curitiba partiria as 13h00, portanto tinha que correr para poder abraçar um por um.

Galera reunida

De volta ao grupo, fizemos uma roda onde alguns se expressaram, se emocionaram e depois pude abraçar cada novo amigo que fiz nessa viagem, amigos que com certeza levarei para o resto da vida.

Despedida

Veja o álbum completo com as fotos do dia

André Pasqualini